sábado, 21 de janeiro de 2017

Mais um 7 x 1, agora no automobilismo


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RIO DE JANEIRO - A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) tem novo presidente a partir de março deste ano: é Waldner “Dadai” Bernardo, pernambucano de 41 anos que foi eleito com 10 votos a favor e sete contra, destinados à Chapa Bandeira Verde, liderada pelo paranaense Milton Sperafico.
Uma pena.
O automobilismo brasileiro não merecia a manutenção do continuismo e do retrocesso. “Dadai” é afilhado político de Cleyton Pinteiro, que afundou o esporte numa crise sem precedentes e também envolveu a CBA num prontuário de escândalos. Não obstante, o modelo antiquado de votação foi decisivo para que a chapa da situação mantivesse o poder. E poderia ter sido bem diferente, não fosse algumas situações. Especialmente que Federações sem nenhuma ou com pouca representatividade no esporte tenham o mesmo peso, por exemplo, de São Paulo, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.
A Federação da Bahia, na figura da presidente Selma Morais, tem uma dívida financeira com a entidade. A mesma Selma fazia parte da chapa de Waldner Bernardo como uma das vice-presidentes. Estou pouco me lixando que ela seja a primeira mulher num cargo de diretoria na futura administração. O que me surpreende é a falta de ousadia em peitar a situação, reconhecer a dívida e votar na chapa de oposição.
O representante do Espírito Santo, sr. Robson Duarte, também não votou, por alegadas “pendências financeiras”. A Federação do Mato Grosso do Sul não votou e foi declarada ausente, porque o presidente teve uma crise de saúde no aeroporto de Campo Grande quando vinha para o Rio de Janeiro.
Pior fez Santa Catarina, mas não surpreendentemente: remando absolutamente contra a maré dos outros estados do Sul e Sudeste (exceto Minas Gerais, nenhuma surpresa também) que votaram em bloco na chapa de Milton Sperafico – que era inclusive apoiada pelos clubes que compõem a FAUESC, que impetraram uma liminar que acabou não saindo. E cabe lembrar: o sr. Almir Petris, aliado político de Jairo de Albuquerque, também foi indicado para compor a diretoria da administração de Waldner Bernardo. É claro que o voto dele foi na situação.
Tem mais: a Federação de Pernambuco é presidida por… Waldner Bernardo. É claro que ele votou nele mesmo.
Sensacional. Só que não…
Não fosse a torpeza de alguns e a falta de coragem de outros, as coisas poderiam ser bem diferentes.
Mas infelizmente, não são.
A política nesse país fede a podre. No esporte, mais ainda. Vocês conhecem alguns exemplos: Carlos Arthur Nuzman, mesmo doente, se elegeu para o SEXTO mandato no Comitê Olímpico Brasileiro – afora o tempo em que ficou à frente da CBV, a Confederação Brasileira de Vôlei. Ricardo Teixeira ficou 24 anos à frente da CBF. Um escárnio. E agora a “República de Pernambuco” ganha mais quatro anos à frente da CBA.
Nenhum esporte vai para a frente sem que a própria comunidade automobilística tenha voz. Até que neste pleito, a ABPA (Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo) ganhou direito a voto. Trinta e cinco representantes da associação votaram em paralelo – 19 indicaram Sperafico e 16 optaram por Waldner Bernardo – inclusive o presidente da ABPA, Felipe Giaffone. Mas foi respeitado o direito da maioria e o voto da ABPA foi para Milton Sperafico.
Não é suficiente: será que os votos realmente indicam o pensamento dos pilotos?
E os preparadores? Chefes de equipe? Quando vão ser consultados sobre o que é melhor ou pior para o esporte no país?
Bem… encerrado o pleito e a campanha, uma das mais duras dos últimos anos – em todos os sentidos, chegamos à algumas conclusões.
O automobilismo brasileiro, tal como o conhecemos hoje, dificilmente vai mudar. O modelo de gestão não sofrerá quaisquer alterações, a menos que “Dadai” tenha capacidade de me provar que eu estou errado e que tudo vai mudar. Caso contrário, ficarei muito feliz de queimar os dedos por ver um trabalho sério e bem-feito – o que acredito piamente que Milton Sperafico faria, sem sombra de dúvidas.
Lamento muito, aliás, que o Milton esteja deixando a luta. É desanimador quando você vê um abnegado, um apaixonado, jogando a toalha. Penso também em fazer o mesmo, mas não vou desistir. Se preciso, vou usar o blog como sempre usei, para criticar a CBA quando ela der margem a críticas e, caso haja ações realmente positivas, tecer elogios sem puxar saco – aliás, tem muito coleguinha da imprensa enojando com tanta puxação de saco à futura diretoria.
Troca de favores?
Ah… antes que alguém fale de mim alguma coisa, eu apoiei sim a Chapa Bandeira Verde. Fiz e faria tudo de novo porque acreditava no novo e que era a hora de mudar alguma coisa no automobilismo brasileiro, pra melhor. Mas eu não tenho a menor influência na cabeça de presidentes e federações que, em troca de verbas e acordos espúrios, “fecham” com determinados candidatos. Lamentavelmente, neste país cada vez mais atrasado, mais sectário, mais desacreditado, mais podre, as coisas são assim.
É mais um 7 x 1 esfregado na nossa cara.
Caminhamos a passos largos para não termos ninguém na Fórmula 1 e tampouco no automobilismo internacional, diante da falta de investimento em categorias de base, num automobilismo interno realmente forte e principalmente no automobilismo regional. A nova administração da CBA tem que enxergar o óbvio: sem tudo isso, não teremos como ser o que um dia já fomos.
Se não houver atitude ou tampouco união, não esperem nada diferente do separatismo. Quem não está satisfeito com o que temos, precisa tomar uma atitude drástica e mostrar, de uma vez por todas, que as Ligas Independentes são a solução para tirar o automobilismo do buraco.

Texto do site: Grande Prêmio
Texto escrito por Rodrigo Mattar

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